JERONYMO RIBEIRO - RESUMO BIOGRÁFICO




…Eu, nada quero da terra, a não ser o amor do meu próximo, o carinhoso conforto aos que sofrem!!! Os que sofrem com paciência e resignação, são meus companheiros, são o meu próximo. Eu vivo exclusivamente para estes! Custe o que custar, seguirei a Jesus, sejam quais forem as barreiras…”.

Jeronymo Ribeiro nasceu na aldeia Lamas, Conselho de Penela, distrito de Coimbra, em Portugal, a 17 de março de 1854. Casou-se em 30 de abril de 1877 com D. Maria Rosa da Conceição Oliveira, natural de Podentes, Conselho de Penela, também Portugal. Emigraram para o Brasil antes de 1888, ele com 23 e ela com 17 anos, fixando residência em São Paulo.

Conseguiram construir uma vida melhor ─ possuíam um armazém de produtos alimentícios, azeites e vinhos, etc. Em 15 de setembro de 1888 nascia Alice, registrada no Livro 23 de Assentos de Batismo da Paróquia da Sé de São Paulo.

Em 1904, por motivo de doença grave (astenia ou anemia?), D. Maria Rosa transferiu-se, juntamente com a filha Alice, para Coimbra, em Portugal.

A 16 de abril de 1905, Alice casou-se com José Maria Barbosa Tamagnini de Matos Encarnação, aluno da Faculdade de Medicina, união realizada contra a vontade de Seu Jeronymo, o que motivou um corte nas relações com os familiares. Cartas e documentos parecem indicar que nunca mais se viram, havendo apenas comunicação por cartas.

Em 1900 conheceu a professora Anália Franco, que fundou, em 1901, a “Associação Feminina Beneficente e Instrutiva do Estado de São Paulo”, destinada a amparar crianças carentes, obra que iria influenciar os futuros trabalhos de Seu Jeronymo.

Colaborou muito com a obra missionária de Anália Franco e tomou por ideal dar continuidade àqueles atos beneméritos de abnegação e compaixão pelos menos favorecidos da sorte.

Médium de raras qualidades dedicou-se à divulgação do Espiritismo e, através da audição mediúnica e da psicografia, recebia mensagens e orientações dos espíritos, possibilidades que muito favoreceram a sua missão de peregrino espírita.

Realizou muitas viagens pelo Brasil, viajando pelo Vale do Paraíba. Peregrinou por São Paulo e Rio de Janeiro, sempre divulgando o Espiritismo, vendendo revistas espíritas e angariando donativos para crianças, velhos e doentes mentais. Com a estrada de ferro Leopoldina, ele alcançou o Espírito Santo, chegando até Vitória, com algumas incursões a Minas Gerais, principalmente na região de Juiz de Fora. Por navio, chegou até Pernambuco, onde ganhou um quadro pintado a óleo intitulado “O Mendigo”, do pintor Oséias. Com os recursos conseguidos, ele ajudava materialmente os mais carentes, sem se esquecer, contudo, de levar o esclarecimento espírita, baseando-se sempre nas obras de Allan Kardec.

Tanto quanto foi possível apurar, Jeronymo Ribeiro chegou a Cachoeiro de Itapemirim por volta do final do ano de 1912, onde, conforme comunicação dos Espíritos, através de clariaudiência, haveria de construir significativa obra espírita, aviso confirmado em reunião mediúnica orientada por Caibar Schutel.

Ao chegar a Cachoeiro, foi recebido por Pedro da Rocha Costa, venerável companheiro espírita e pioneiro nessas terras. Foi apresentado, então, ao grupo que havia formado o Centro Espírita “Fé, Esperança e Caridade” que, inclusive, não possuía sede: as reuniões eram realizadas na residência do presidente, Antônio da Silva Marins, situada à Rua Dr. Deolindo Maciel, perto da rua que leva ao morro Amaral.

Em 13 de abril de 1913, foi eleito Presidente do Centro “Fé, Esperança e Caridade”, sendo a diretoria formada por Valentim Soares, Vice-presidente; Francisco de Oliveira, 1º Secretário; Maciel Nunes Machado, o 2º Secretário; e Ricardo Gonçalves o Tesoureiro. Já investido na presidência, Seu Jeronymo propôs, com apoio dos demais diretores, a mudança do nome do Centro para “Associação Espírita Beneficente e Instrutiva”, percebendo-se aí a influência das atividades de Anália Franco, com quem já havia trabalhado.

A partir de então, houve uma revolução no Movimento Espírita, pois, com o seu dinamismo, Seu Jeronymo começou uma campanha para a construção da sede do Centro, que, para espanto geral, foi inaugurada três meses depois, a 14 de julho de 1913.

Na “Associação Espírita Beneficente e Instrutiva” implantou, de modo pioneiro, uma espécie de estudo sistematizado da Doutrina Espírita, com as obras de Kardec sendo estudadas em rodízio, para que todos tomassem conhecimento do conteúdo de cada livro.

Seu Jeronymo utilizou a mediunidade como instrumento de amor. A qualquer hora, socorria quem quer que necessitasse da sua presença amiga e vigorosa. Sua fama de médium curador espalhou-se pelo Estado. Muitos obsediados, tidos como loucos, foram aliviados em sua presença. Os perturbadores mentais internados encontraram lar amigo, amor, dedicação e grande melhora pela terapia do trabalho.

As atividades se intensificaram. A Associação, além das tarefas espíritas, doutrinárias e mediúnicas, mantinha, gratuitamente, uma escola primária e, nos fundos do prédio, um albergue noturno.

Num esforço maior, em 1916, criou a Liga Brasileira Contra o Analfabetismo, mais tarde Liga Espírito-Santense, com o objetivo de combater de frente o analfabetismo, visando a que, no centenário da Independência do Brasil, em 1922, não houvesse mais analfabetos, crianças ou adultos. Para a Liga, Seu Jeronymo chegou a receber verbas municipais mensais, visto que ali muitas crianças e adultos eram instruídos gratuitamente.

Para divulgar mais amplamente o Espiritismo, fundou em 1916 o jornal espírita Alpha, que no ano de 1923 é aprimorado para o formato de revista, sendo esta a primeira publicação de cunho espírita do estado.

Em 1918, fundou o “Asilo Deus, Cristo e Caridade”, para abrigar órfãos, velhos e doentes mentais. Para isso, comprou o Sítio Santa Fé, num lugar chamado Amarelo, situado a 4 km do centro de Cachoeiro de Itapemirim. Havia ali uma casa de fazendeiros, simples, e dois quartos, onde, de início, abrigou 12 indigentes, entre crianças, velho e alienados, sendo 6 do sexo feminino. Além de tratamento alopático, os doentes recebiam recursos homeopáticos, passes e água fluidificada. O índice de cura no Asilo era bastante alto ─ 40% ao ano.

Para arrecadar recursos, viajava muito por aquelas montanhas, muitas vezes a pé, descalço, para não gastar os sapatos, por economia. Trabalhava em cantaria, carpintaria e outros afazeres que pudessem render em favor das obras assistenciais.

O seu trabalho foi reconhecido pelas autoridades municipais e estaduais. O Governador Nestor Gomes solicitou que recebesse doentes mentais que estavam sob responsabilidade do Estado, pois não havia instituição, no Espírito Santo, que pudesse realizar tal serviço. Seu Jeronymo passou, então, a receber verbas específicas, a fim de manter esses pacientes, que muitas vezes eram mais de 80, tanto do sexo feminino quanto do masculino.

Com os recursos que conseguia, foi comprando e ampliando a propriedade, chegando a comprar terras no Distrito de Vargem Alta, das mãos de D. Alice Gomes, irmã do Governador. Construiu ali um sanatório para as crianças enfermas do Asilo. O seu objetivo não era o de acumular bens ou patrimônio, como muitos afirmavam com a intenção de combatê-lo e persegui-lo, mas fazer ali uma colônia agrícola, o que não conseguiu, pois veio a falecer. A construção da colônia, no entanto, foi realizada por seu sucessor.

Com uma taxa de mortalidade anual em torno de 20% dos pacientes, idosos e doentes, em 1922 Seu Jeronymo solicitou permissão à Prefeitura para construir um cemitério, sem ônus para o município, o que lhe foi concedido. Na inauguração, o Prefeito Dr. Augusto Lins, além da permissão para o funcionamento, também o nomeou zelador, com todas as vantagens do cargo, o que se tornou mais uma maneira de conseguir novos recursos financeiros.

Pessoalmente, enfrentou, junto com companheiros de primeira hora, perseguições dos preconceituosos, invejosos e fanáticos de todos os tipos. Sofria perseguição da classe médica, porque curava os enfermos do corpo e da mente com os recursos espíritas. Aos poucos, pelo exemplo do trabalho de abnegação junto aos desvalidos, todas as instituições por ele criadas foram vencendo os preconceitos, firmando-se na sociedade, sendo reconhecidas como de utilidade pública, recebendo verbas governamentais.

Juntamente com Pedro da Rocha Costa (Vovô Pedrinho), foi reconhecido por toda a comunidade como Apóstolo do Bem, por sua dedicação às crianças órfãs, aos considerados loucos e obsidiados.

A caridade marcou seus passos, e quanto a sua disposição para com ela, ele declarou: “…Eu, nada quero da terra, a não ser o amor do meu próximo, o carinhoso conforto aos que sofrem!!! Os que sofrem com paciência e resignação, são meus companheiros, são o meu próximo. Eu vivo exclusivamente para estes! Custe o que custar, seguirei a Jesus, sejam quais forem as barreiras…”.

Jeronymo Ribeiro desencarnou a 5 de outubro de 1926, em Cachoeiro de Itapemirim, aos 72 anos de idade. Possuía uma cardiopatia e, ao aproximar-se o dia em que deveria partir deste mundo, adoeceu visivelmente, desencarnando cinco dias depois, com um sorriso no rosto, como deve ser a morte de um justo.

A respeito desse momento, há um depoimento do Dr. Carlos Lomba, que o assistia quando do desenlace:

“Pois bem foi em 5 de outubro de 1926, que o bem velhinho expirou nos meus braços, sendo que poucos momentos antes, fazendo-me chamar (pois que eu tentara, então, um ligeiro repouso físico após 5 dias e 5 noites de vigília), e assim segredou a meus ouvidos, já quase sem forças para falar, apontando-me o braço: ‘deite um pouco de azeite à lamparina, que está quase a se apagar…’ E assim me pedia ele, com o faceis sereníssimo, lívido, já moribundo, mas com impressionante lucidez, tranquilidade e coragem, que eu lhe fizesse a última injeção de óleo canforado. E assim foi. Poucos momentos após, e eis que o desenlace se opera, subitamente, em colapso cardíaco, regressando o nosso delictíssimo e profundamente saudoso Amigo à Pátria Espiritual”.

Jeronymo Ribeiro foi sepultado como era seu desejo: na quadra de mendigos do Cemitério do Sítio de Santa Fé, em Amarelos, envolto num lençol. A consternação foi geral em Cachoeiro de Itapemirim. A cidade inteira compreendeu que perdia, naquele 5 de outubro, um de seus mais valiosos cidadãos.

As instituições criadas por Jeronymo Ribeiro passaram a ter o seu nome, como a Associação Espírita Beneficente e Instrutiva “Jeronymo Ribeiro”, tendo o Asilo, mais tarde, sendo denominado “Lar Jeronymo Ribeiro”.

Em Cachoeiro de Itapemirim existe o Centro Espírita “Jeronymo Ribeiro” e a Escola de Música “Jeronymo Ribeiro”, do Asilo, que era dirigida pelo Maestro Alfredo Herkenhoff. A antiga estrada, que conduzia do Centro da cidade ao Asilo, hoje é uma comprida rua calçada de paralelepípedos, chamada Rua Jeronymo Ribeiro. Em Vila Velha (ES), existe um grupo espírita denominado “Jeronymo Ribeiro”.

Do mundo espiritual, Jeronymo Ribeiro, através de abnegados médiuns sensíveis à sua influência benfeitora, continuou a sua obra, orientando os trabalhos espíritas de assistência social bem como importantes tarefas de desobsessão. O seu lema era “o Espiritismo deve ser divulgado por palavras e atos”.

O Asilo, hoje denominado “Lar Jeronymo Ribeiro”, teve como seu sucessor Luiz de Oliveira, escritor e poeta da Academia Mineira de Letras, indicado pelo próprio Jeronymo Ribeiro. As obras cresceram e marcaram, praticamente, o início de um movimento espírita forte, no Estado, tudo devido ao espírito de trabalho, à palavra esclarecida e ao exemplo do cidadão honrado Sr. Jeronymo Ribeiro – O Apóstolo do Espiritismo no Estado do Espírito Santo.

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Imagem: www.google.com . Acesso em 22.03.2013.

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